segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Há algo mais

Eu me arrependo de me expor. Essa falta de quem me apoie, me entenda, me compreenda é tão dolorida, mas ao mesmo tempo não dá pra buscar alguém, não dá pra encontrar, só dá pra viver. No fim, eu aprendo um pouco mais sobre o mundo e sobre mim, e me apoio, me entendo, me compreendo. 

Se às vezes parece que me faltam amigos, às vezes o que me falta é apenas colo com tensão sexual latente. Um abraço, uma palavra amiga, uma palavra de orgulho de quem quer compenetrar na minha alma, com todas as doses de amor possíveis. Às vezes a falta é de um amor que sente sem limites, a ponto de compartilhar das ansiedades, dores, objetivos e frustrações. Pode ser que hoje seja assim que me sinta: deslocado, buscando motivos pra viver. 

Tenho medo de viver assim, sem muito propósito, porque adoecer poderia me levar mais fácil. Sinto que essa tristeza existencial vai consumindo meus neurônios, cardiomiócitos e pneumócitos. Seria caso de largar o cigarro, que é plano, meta, mas e daí? Sinto-me perdido, tentando vencer a inércia, não tanto pela dor do antigo amor ausente, mas dor de ter ausentado meu coração de sentir por alguém. Nesse ponto sim, vem a imagem dos meus queridos amigos, talvez eles sejam o que me mantém firme, mas não parece bastar. 

É sobre construir a vida: eu havia feito uma bela construção que ruiu e já está loteada - espero que sem o risco de trazer farpas ou pregos ao vento, mas e agora, o que vem? Se sou o homem que dizem que sou, se trago tão boas vibrações por onde passo, por que tanto sofrimento? O que fiz pra merecer essa angústia descamante que transcende o meio físico que abriga minha existência? É minha mente se perdendo de mim, meus sentidos confusos, minha dor no pescoço que não há travesseiro que cure, minha lombar que anseia pela dor do exercício físico que foi se perdendo.

Vale tanto a pena assim a sobriedade? É um sentimento tão inóspito que o que me resta é um pensar infantil, um pensar moral que me tranca o agir, que me torna tão quadrado e, enfim, só. Um a um dos que eu sempre mais gostei foram se distanciando. Agora eu me ponho nessa busca de quem possa estar por perto de maneira mais intensa, e com meu jeito infantil de ser, me abro, me exponho, jogo pra fora tudo isso que escrevo, e depois sou recebido com uma dose agressiva de resposta. Tão hostil, com tanta indiferença, provavelmente é o que mais dói.

Eu não pedi pra ser como sou, eu não pedi nada, eu só fui vivendo e não soube me preparar pro momento em que descobrisse que tudo o que falei, fiz e senti foi reflexo de uma assimetria com o mundo, que pra mim nada havia de diferente. Mas era. Agora tenho poucos (mas tenho!) em quem me espelhar, a quem observar, mas de que adianta? Buscar viver anestesiado com o queixo inchado, olhos disfuncionais e o cinturão dos pesos pesados? Pra quem será esse título se não para os outros? Pra mim o que fica? Fica a angústia que não me deixa fugir pras montanhas, que não me permite ser um ermitão, pois, é óbvio!, eu dependo da atenção alheia.

Parece que é um poço sem fundo, e solitário, sem as vozes lá em cima dizendo "vou buscar ajuda", "vai ficar tudo bem." Posso dizer que é ansiedade o que me aflige, mas lendo e relendo toda essa honestidade intelectual que me põe em risco, vejo que não é só. Há algo mais.

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