sexta-feira, 30 de novembro de 2012

Sem autolatria


Eu quero nunca mais ter que dormir, mas sorrir pelado, viver embriagado e ter menos idéias grandiosas.

Quero, inclusive, incinerar os vestígios de sentimento apaixonado. Há uma razão muito forte que compensa eu ter citado isso em outro parágrafo: sentimento apaixonado é sentimento vigário, estelionatário, suicida! É tão perigoso que precisa de muito cuidado e, sobretudo, ter fim quando surgir.

Quero, também, poder entregar meus olhos. Entregá-los aos que não vêem o sofrimento que posso ver, e receber os olhos de quem vê o sofrimento do qual não vejo. Não é só isso, preciso de mais dores, lágrimas e sangue. Tenho sentido dores, mas às reprimo; tenho chorado, mas as lagrimas tenho escondido; tenho me mutilado, mas o sangue encobriu as entranhas da percepção. Aparentemente, só tenho sido uma pessoa confusa, mas a beleza da nostalgia há de mostrar que a confusão é só um reflexo do sofrimento que preferi esconder.

Preciso de uma maneira não contraditória de poder amar sem estar apaixonado. O amor move montanhas - ouço muito dizer. Não haverá, talvez, uma forma que eu possa mover montanhas sem vender minha alma pelo dom? Necessito descobrir isso o quanto antes; será o suficiente para eu propor uma nova fórmula científica que faça o mundo chegar em uma utopia! Ah, imaginação autofágica, por que todo novo conhecimento é tão retroativo e, ao mesmo tempo, tão destrutivo? Falar em utopias é autofagia descarada!

Não tenho tempo para pensar naquilo que pode corrigir meus pensamentos errados, e provavelmente essa é a última parte do caminho que ruma ao meu fim. Mas nem tudo está perdido, tenho um corpo saudável; a "salvação" poderá estar na "carne". Não que eu acredite nisso, mas não tenho uma verdade fixa a acreditar, então fica suscetível um "pode ser" para tudo que possa acontecer ou simplesmente ser - com ênfase de entrelinhas no 'ser'.

Os resultados têm sido muito contagiosos; refiro-me às avaliações que outrem tem feito de mim. Sou avaliado como tão péssimo em tudo, que até aquilo que não era tudo se tornou. Não pretendo mudar isso, a natureza vive de tendências e toda tendência alterada tem um reflexo relativo à mudança; mudanças se denigrem (e destroem) comumente. Ou seja, vou indo até onde o vento puder me soprar, depois disso, corto meus pulsos ou jogo-me de um penhasco. Possivelmente não, mas quem haveria de ligar?

A cura dessas minhas complexidades já passou à frente dos meus olhos. Talvez uma, duas ou três vezes, ou talvez vinte, trinta ou quarenta vezes. O importante é que eu sei qual a cura, e por mais inatingível que 'ela' seja, se eu morrer por sua falta, a culpa não terá sido minha.