Eu te convido a ler este texto que consegui capturar um momento singular de transição de estados mentais de inquietação para superexcitação.
Às vezes consigo proferir as palavras mais degradantes em momentos de solidão e tristeza que leio e me pergunto: quem é esse cara falando isso?
O problema é essencialmente acreditar que eu estou tão só ou tão triste. Sou um ser humano rodeado de bons amigos e, por fazer um pouquinho a mais que o mínimo, um homem interessante que atrai mulheres interessantes. Fato é que conheci uma mulher que me deixou as marcas severas que um grande amor deixa quando acaba e quando se insiste em tentar algo que já acabou. Honestamente, ela soube se lidar melhor que eu.
Me contaminei a mente com ideias tão libertárias que terceirizei o fogo e o ardor para lá também. Tanto autocontrole que perdi a oportunidade de viver em prol da excelência que a minha mediocridade supõe que eu deva ter. É um saco, trabalho de retorno à vida, ir aos poucos...
Espera aí! É difícil pois sou homem de beijos, de poesias, caminhares de mãos dadas no parque, sexo ao acordar, no vão da escada e antes de dormir. Sou homem que vê beleza ou inquietude por ranhuras na mesa de madeira. Não vou olhar pro asfalto sem enxergar simetrias na aleatoriedade das pedras que ali se encontram. Sou intenso no sentir e sinto pendências por amores passados. Dos que amei, dos que me apaixonei, dos que gostei, dos que maravilhosamente esculpi minha alma de prazer por meses, dos "oi, poesia, tchau e bênção".
Que aterrorizante é a sensação de ter adormecido minha sexualidade ainda que com raros encontros casuais sem cor, sabor ou cheiro. Os encontros que me dividi em porções de pena: minha e dela, que não corresponderam a vivenciar minha sexualidade, mas um teatro de atores cansados, com máscaras sorrindo e uma sexualidade pobre de quem se contenta com um orgasmo barato numa cama suja de profanação do belo.
Terceirizei, sim, o orgasmo à minha contemplação do sujo, violento e degradante cinematográfico. Paguei e pago os preços por isto, ainda que caminhe para longe das minhas antigas algemas, já que sua vista me fez sofrer. Eu aprendi a não olhar pra trás, aprendi mesmo!, mas como dói quando pega pra doer. No inverno, são os ossos que doem; na primavera, o corpo fadigado e inoperante.
Pode parecer que eu estou querendo falar sobre o despertar, o "tão aguardado" despertar, mas não estou. É contemplação do momento, do momento de autopercepção. Eu sei sentir borboletas na barriga e não faz muito que senti, mas elas voaram tão logo percebi que não pudemos seguir viagem. Acho que eu expulsei as borboletas dela, justamente por esse vazio, que não é cérebro, não é pinto, não é vagina, não é seio, é vazio!, é intumescência do fracasso!, é dor que desatina doendo. Fadiga? É fadiga sim! Cansaço, exaustão mental dos tantos anos rodando a manivela, dando voltas no oceano das inquietações, mas sem mergulhar, só vivendo à margem do medo de existir. E é tudo tão cascudo, tão rígido e seco, tão intrincado, tão morfologicamente abstrato, que é ruim de escrever sem fazer careta.
Não há despertar que não conscientize a plenitude. Há o pleno! O barato do pleno é que não há dúvida, não há parede, obstáculo ou cisão. O pleno concede paz imaterial, concede o riso hippie, autoriza os passos mais distantes, revigora a potência do saber, traz a inocência da alma que consegue, sim, consegue ver com paixão as sutilezas do vil e do que há de mais inóspito à compaixão. O pleno é o meio que não tem início nem fim. O pleno é o jogo de dardos que não precisa acertar num alvo, pois tudo é acerto, pois é desprezível a competição, é desprezível o "fazer melhor". Aceita-se, bebe-se e vive-se.
Como então eu poderia me queixar da solidão e da tristeza, se são cacos, recortes, rituais mal sucedidos de uma falha na observação constante de si? Eu posso me conectar ao mais profundo eu, estando em distância infinita de qualquer outro ser, e mesmo assim não ter qualquer sensação ruim. Isso porque entre eu e 'o eu' impera o vazio, mas distorcendo, cria-se essa falsa noção de que entre o que sou e o que enxergo que sou há uma ruptura, uma falha. Existe distração, não disformidade. E de onde vem? Vem do desejo de corromper-se, de afastar-se da própria previsão, só para mostrar para uma plateia de cadeiras que consegue ser imprevisível.
O aleatório não é sobre ser imprevisível, sua beleza não é esta, são suas relações, é a concepção de que não há controle sobre o ato, mas que o ato pode se observar e pode não se observar, concomitantemente, enquanto se pensa a respeito. É com isso que alinho minha noção de plenitude; onde o pleno transmuta por cenários que se prostram e não há mais que uma única certeza: há algo e talvez esse algo não exista. É sobre isso minha tatuagem.
Reconheço-me como o que sou: um ser. Minha pequeneza e mediocridade perante o tempo, o espaço e os outros seres é valiosa, é minha arma secreta contra mim. Agora no que tange ao meu imaginário, sou a realização do processo canônico que me representa, sou a perfeição, sou o devir, sou o objeto que transcreve na história as carícias que faço de contemplação pelo viver. Sou, enfim, a busca e o resultado da busca, a serpente e sua vítima fatal, sou o ardente desejo de firmar-me além do que meus olhos podem ver. Sou Denis.