segunda-feira, 17 de outubro de 2016

Como uma onda

Autocontrole é uma dádiva ou uma desculpa para o medo? É meio difícil responder a uma pergunta como essa. Dia desses, um cara morreu. Sabe, ele vinha tendo tempos ruins... não o conhecia, mas tudo indica que se suicidou dentro da universidade onde tenho uma vida acadêmica.

Infelizmente, o suicídio mostra o quanto a vida é efêmera... e frágil. Não importa quão rígido, disciplinado ou austero seja o planejamento; no fim, o que conta mesmo é o amor do próximo. Se aquele homem, que se suicidou nos trilhos do trem querendo chamar a atenção de milhões de pessoas, pudesse voltar e ver a opinião da grande massa, teria se jogado de novo. A grande massa é cruel.

Eu não entendo como uma sociedade majoritariamente cristã pode ter tanto ódio pelo outro. Diz-se que Cristo pregou o amor ao próximo, morreu na cruz por amor à humanidade. Não entendo muito bem isso. Amor por quem não conhece? Amor sem querer algo em troca! É realmente uma das mais bonitas histórias de amor, possivelmente a maior. E onde está a maioria cristã para contestar as declarações de ódio contra um suicida?

Uma das maiores necessidades de um suicida em potencial é o amor do outro, pois ele não tem amor à própria vida. Ainda assim... o mundo... a vida... nós só escrevemos porque sentimos a necessidade de nos comunicar e isso vem da vida em sociedade, estas linhas são resultado de uma construção desenvolvida pela vida em sociedade. Eu não cheguei até aqui graças apenas à minha própria vontade, foi um trabalho que envolve muitas pessoas.

Amor próprio é fundamental para construir algo, mas uma construção com apenas cimento e tijolos é uma construção sem cor, vazia, instável, talvez até sem sentido. O amor próprio de nada vale se for somente ele a vida toda. Foram duas as notícias de suicídio que me tocaram nesta temporada e elas passaram assim... despercebidas, como aquele vento calmo que sopra na madrugada e só é sentido por quem está bem próximo.

O que mais me aflige é saber que o suicídio pode ser visto como um devaneio do autocontrole. Conheço pessoas insatisfeitas com a própria vida, algumas delas até já tentaram contra a própria vida. Em raras situações, até eu fiquei insatisfeito com minha vida. E o que me salva? Olhar para a bela construção que faço em conjunto com boas pessoas. Talvez não boas moralmente, mas boas para mim.

Autocontrole é dádiva (divina)? 

Se é, é necessário prestar atenção em dádivas: qualidades do ser podem prejudicar o estar. É como o cigarro que alivia a solidão e é negado pela moral, por poder reduzir o tempo de uma vida que tem tempo indeterminado. É melhor enxergar qualidades como características, porque característica é uma forma genérica de algo do indivíduo que pode ser qualidade ou defeito, embora isso dependa do ponto de vista.

O autocontrole pode causar o suicídio. É como pensar justamente no confronto mental do indivíduo: "chega de tanta indecisão, preciso agir, ao menos uma vez na vida".

Autocontrole é desculpa para o medo?

A resposta disso pode ser trágica. Se sim, o medo pode ser o novo, então, controlar-se perante o novo é o "extasiante" autocontrole. Pode ser o medo de usar uma substância que traz consequências drásticas ou o medo de aceitar um emprego que subsidie uma boa condição de vida, mas enxugue a essência da vida por ser cansativo e estressante.

Essa visão de autocontrole também causa o suicídio. Sim, o autocontrole que é o medo de viver sob condições difíceis.

Então, onde eu quero chegar com isso? Tudo causa a morte?! Não! A morte é a ausência eterna dos sentidos, logo, ela pode ter acontecido antes que percebam. O autocontrole pode não ser suficiente para evitá-la ou mesmo causá-la. Não é difícil pensar nisso.

Sabe o que é? Como eu disse, esses dias, ontem ou anteontem, morreu um cara que tinha ingerido dezenas de comprimidos; algum tempo atrás, outro se jogou na estação de metrô. Sobre o mais antigo, ouvi diversos discursos criticando a pessoa por "ter atrapalhado tantas pessoas a irem trabalhar"; sobre o atual, vi apenas uma nota oficial da universidade e um ou outro comentário. Não que empatia seja obrigação das pessoas, mas ódio gratuito com certeza não é.

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