Tinha pensado numa introdução descontraída pra falar sobre esse meu repensar de forma mais realista sobre o mundo, mas não sei se daria muito certo. O cômico sempre pode ser trágico...
Eu ouvia bastante que muito estudo deixava as pessoas loucas. Ora, parece que aqueles que diziam isso trocavam causa por efeito. Acho que uma pessoa com problemas sociais tem várias opções para esquecer ou reparar esses problemas e, dentre tantas, os estudos. Sabe, não acredito que uma pessoa que se abra ao conhecimento ensinado por outros, mesmo que em livros, venha a se tornar fechada para os contatos sociais, como supõem as boas ou más línguas.
Digo isso porque em tempos difíceis como este, onde algumas escolhas de "construção de muros" são imprescindíveis, tenho encontrado uma válvula de escape nos livros. Não é uma projeção da própria solidão, está bem longe disso, mas nesse jogo de bilhar mata-mata que é a vida, tem horas que todas as suas bolas caem e é necessário cair a ficha pra recomeçar e ter a chance de vencer.
Certo, mas o que cair a ficha tem a ver com a loucura e os livros? É que a válvula de escape nos livros é efeito de algo parecido com loucura. E esse algo provavelmente é causado pelos muros que não tenho escolha de não construir. Aliás, escolha de não construí-los até tenho, mas é como respirar: você pode até parar de respirar conscientemente, mas uma hora acaba desmaiando e o processo é retomado. A ficha cai quando você percebe que é inútil prender a respiração até que desmaie.
Diariamente, ouço inúmeras pessoas falando sobre como o sistema é ruim e elas até têm um discurso convincente no começo, mas chega uma hora que é necessário perceber que o sistema é um meio e não um inimigo; você não pode confrontá-lo, embora possa transformá-lo. A melhor forma de fazer isso? Agir sobre as regras dele, desenvolver-se às custas dele e, por fim, mudá-lo. Muitos fizeram isso e mudaram; transformaram o sistema, mas de forma a favorecerem a si e não a um organismo coletivo. Alguns outros foram de frente contra o sistema, mas esses tinham os recursos que eu não tenho.
Sonhar é algo revolucionário, entende, sonhar faz bem! Sonhar faz bem, mas é necessário ter os pés no chão. Eu posso até sonhar em mudar o mundo, mas já percebi que não combina comigo ficar hasteando bandeiras, tenho que ter paciência, pra num dado momento, apontá-lo na direção de uma utopia e empurrá-lo com toda a força, sem esquecer que a utopia de hoje é a distopia de amanhã.
Acontece que cada pessoa é um universo e eu não sou diferente disso! Sabe qual o problema em fingir que sou aquilo que querem que eu finja que sou, só pra depois ter o poder de mudar uma estrutura (como o sistema)? É simples: isso é uma forma de me limitar. Agora imagine um universo limitado.
É, não dá pra fugir dos muros, mas eles enlouquecem!
Nenhum comentário:
Postar um comentário