sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Pedaço da rotina dos desgraçados da rua 7

- Eu vou me apresentar como 'Mesquita', mas há quem me chame de Cláudio. Minha estatura é média, mas sempre faço uma média dizendo que sou alto. Não sou! Se tenho vícios? Sim, realidade lúcida é realidade perdida, sou usuário de crack com orgulho.

- Próximo, por favor.

- Jamião! Nome complicado né? Meu pai que me deu com a sua grandiosidade, e se me permite, esse homem me educou muito bem. Eu tenho umas vontades meio doidas, costumo comer milho com ketchup, coisa que inventei com uma rapaziada que diz ser amiga minha. Ah, tenho 27 anos.

- Próximo!

- Sou Aquiles Fernando Jabirá, sou descendente de italiano.

- Só isso?! Próximo então.

- Façam-me o favor de conceder vossa atenção; aqui quem vos fala é Ernestinho. Tenho uma tara muito grande pelo desenvolvimento, trabalho em equipe e amor ao próximo. Li os escritos de Aleister Crowley, são macabros; há de ser tudo da lei!

- O próximo.

- Na verdade, é a próxima. Sou Juliane Carmela, tenho 19 anos. Fui fundadora do clube 'Amamos a Juliane Carmela', que hoje conta com 17 pessoas, jogadora de tênis de mesa amador e pratico sudoku há 1 mês.

- Puxa! Então, quem vem na sequência? Ó, vejo que agora as meninas estão começando a aparecer.

- Então, eu sou a Xarporifitina. Mas quem garante que essa seja eu? Não é a minha intenção ficar me apresentando como todos; não sei onde isso vai chegar. Quero saber quem és tu, que tanto pedes para que os próximos venham e nada fala. De onde surgimos? Não somos apenas simples personagens extraídas da sua cabeça para dar continuidade a esse fiasco narrativo, exijo meus direitos de personagem legítima e quero saber de onde vem esse interrogatório!

- Pois não, você é um fiasco narrativo, não devo-lhe satisfação.

- Fiasco narrativo, seu filho da puta? É assim que se trata uma condecorada personagem que reverte todo o sentido de um ensaio de pensamento completamente falho para um ensaio de pensamentos discutidos?!

- Não me interessa, você foi desagradável, não existe mais! Então, a próxima, por favor!

- Sou Fabiana, formada em engenharia mecânica pelo exército da Inglaterra, e sou fã de Ramones.

- Que instigante, quem dá continuidade?

- Meu nome nem queira saber, meu rapaz! Mas ultimamente sou conhecido por Batatinha. Vivo de trocas, desde objetos até serviços. Minha vida é bacana!

- Céus! Quem e...

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Reflexões desse Natal

Não lembro de muitas coisas, mas lembro de choro.
Não lembro de muitas coisas, mas lembro de gritos.
Não lembro de muitas coisas, mas lembro da violência.

A violência transtorna, mutila e rompe com a alma, desgasta todos fluidos de bons pensamentos, arranha a face de um coração que dá a cara a tapa. Não é sombria, mas cruel. É tão cumulativa, que vai enfatizando na mente todo o ódio possível até que seja suficiente para rebelar-se em fera, descontrolar-se em fúria, consolidar-se monstro. Monstro atroz, que só não sabe onde confiar teu rumo, mas despedaça a coesão, pobre criatura.

Queria poder saber onde acabo com a monstruosidade, mas esses complexos nervosos são indecifráveis. Sem dúvida, algo degradante. Entretanto, se não contiver o que de ruim se expandir, como à ordem chegar?

Lembro-me de Raul, não que ele dissesse a respeito disso, mas quanto àquela música que tanto se repete "coisas do coração". O que ocorre é exatamente isso, pois existe toda uma relação de envenenar, apodrecer e entristecer o coração nessa de, respectivamente, enfurecer, acalmar e lembrar. É uma autodestruição, suicídio da essência, propagação da infelicidade. E, tanto assim, tudo isso pra que?

Atenho-me que nunca há motivos para decair-se no ódio, visto que é tudo tão sem sentido e fugaz, que nem a própria humanidade sabe quanto vai durar e porque tanto dura. Em primeiro ponto, pode até parecer que isso me ponha indiferente em relação à existência ou não do ódio. Todavia, com um pouco mais de reflexão, basta lembrar que a fúria é autodestrutiva para quem a sente, o que faz total diferença na hora de escolher o melhor caminho para a prosperidade do ser.

Tem uns panacas aí que gostam de contribuir na desavenças, vulgo colocar lenha na fogueira. Esses não refletem pena, reflete desprezo. Sem mais.

sábado, 15 de dezembro de 2012

Burocracia da crítica

Procurei, ah, se procurei o sentido da vida! Mas sendo bem sincero, não achei até então, e se talvez um dia eu descobrir, paro de viver; a graça vai acabar mesmo...

A graça é viver sobre planos de metas furados, sem objetivos. Esses papos de cumprir objetivos são uma velharia condicionada pela ala conservadora da sociedade, talvez não uma ala, a maior parte... Quem haverá de saber? Só sei que penso como penso porque sou eu que penso essas coisas, mas se não fosse, possivelmente nem acreditaria se me dissessem a respeito.

Não sou descrente nos meus ideais, entretanto onde estarão os meninos da praça, que sabem fazer espetáculos de pirofagia, mas não têm uma escola no curriculum? Onde estarão eles pra mostrar que o talento independe da burocracia? Onde estarão eles pra mostrar que é possível viver, mesmo sendo chutado pela sociedade, mesmo sendo difamado por expor sua arte, e ainda assim, sorrindo no fim do dia quando consegue o ganha-pão de quem acredita na arte, no amor, ou simplesmente na demagogia?

Complicado não é a vida, é o sentido que se guia ela. Sei lá, é provável que seja muita coisa ou seja nada. Não é taxando algo de complicado que se obtém de onde vem a complicação, porque assim, você pode achar que tanta coisa é fruto disso, que simplesmente vai sair dizendo que os sentimentos dos animais são complicados, só por meras coincidências. Não há fundamento, esse é o grande ponto a se discutir.

O que falta fundamento não tem lógica; não porque a lógica inexista como um todo, mas a lógica inexiste no que tangencia a discussão: como discutir sem ter um princípio que respeite o diálogo? É como se fosse simplesmente a união de dois monólogos intercalados; podem calhar de modo a falar sobre o mesmo assunto, mas não como regra. É justamente nisso que se destrói o princípio de respeitar o diálogo, só ficou uma certa possibilidade de bater os assuntos ditos, não a regra que haja dialética. E sim, esse é um condicionamento plausível: a dialética para com o diálogo, por mais pleonástico que soe.

Feitas todas as considerações, é melhor elevar as luzes no fim do túnel a um nível mais abstrato, modificar aquela forma elíptica, talvez circular que vive no fim inatingível e trazer formas psicodélicas, fractais, talvez lineares, mas que estejam perto. Vivenciar metas é melhor que deturpar-se nesse conceito de objetivo que tanto é berrado aos ouvidos, mastigado nos discursos, vivenciado em histórias desde crianças. Crianças essas que de tão inocentes e dispostas a aprender o que lhes for apresentado, são perfeitas para se submeter à alienação desde que às for concedido o exercício de raciocinar. Mas não, isso não entrará em pauta! Por quê?!

E como fazer a geometria de luzes do túnel ser acessível? Essa, creio eu, não é uma pergunta complicada: a grande ideia é justamente acabar com objetivos, dissociando-os, rompendo com todas suas bases concretas e instaurando metas que possam compensá-los. Vejo que metas podem ser alteradas com frequência e no máximo podem corroborar para que haja uma mudança no caminho, mas não no motivo de abrir os olhos, imaginar, raciocinar, etc. E isso não é o mesmo quando se trata de objetivos, pois há muitas responsabilidades inclusas, há muitas condições inclusas, há muitos problemas inclusos, sendo que só o que fica exclusa é a pluralidade de escolhas.

O problema, então, não é a segregação de valores, mas a submissão coletiva a valores numa frequência ininterrupta. Essa frequência força que hajam objetivos de vida, sendo que seu conteúdo impõe os tipos de objetivo, os estilos de vida, etc. Eis que vêm as indagações: tudo isso por que? Tudo isso para que? Por que tudo isso? São muitas dúvidas, mas ainda assim, hoje não tenho discernimento pra responder qualquer uma delas...

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Retrato artístico

Não foi alguma coisa,
Também não foi nada.
Sabe o que foi?
Foi trouxa!
Sujeito trouxa?
Fui eu!

Não só fui,
Tenho sido um completo.
Completo trouxa?
Não, um completo idiota!

Que idiotice da minha parte,
Mas não só da minha.
Só de todos que são isso.
Dessa vez isso o quê?
Só 'isso' mesmo.

Mas não vou explicar.
Eu queria muito!
Queria muito o quê?
Viver um pouco mais de uma maneira diferente.
Diferente como?
Do jeito que os cães vivem.

Os cães vivem latindo,
Mas o lado bom...
Ah, o lado bom...
O lado bom é que cães sempre amam seus donos.

Eu não tenho donos,
Não tenho dons,
Não tenho dó,
Não tenho nada.
Mas tenho amor próprio.

Sou feliz, até.
E é 'isso' aí!

Viu como sempre se acha o significado das palavras?
Se não viu, estamos no mesmo barco.

Se o barco afundar,
Mande flores para a ultima que arrancou um riso meu
Quando eu estava olhando sua fotografia.
Diga que elas virão de um pretérito mais-que-perfeito,
Mas não venha a ela dizer que as flores serão minhas.

As flores serão de um jardim falso,
Criado na minha imaginação.
Se ela não acreditar,
Beije-a com a dor do meu fim
E leve-a até o mar que o barco me deixou.

Quando a flor perder a vida,
Todos saberão o que fazer
E todos saberão o que dizer.

Então, beije-a novamente,
Só pra que o amor esteja entre a minha conexão
- A pessoa que acatar meu pedido -
E a face lúcida de um desejo escondido.
- Pois essa ultima valia meu sorriso, meus pensamentos e até meus sonhos -

E se o amor morrer
No dia em que eu sumir,
Acabe com meus versos,
Pois assim, nunca terei existido.

Mas nunca deixe de obedecer meus pedidos
E beije ela,
Só para que o beijo se torne arte e você aprenda a pensar.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2012

Não chame os matemáticos

Imagine um espancamento, mas não qualquer espancamento! Imagine aquela pessoa que mais fez mais mal à sua própria vida sendo espancada. Pronto! Feito isso, estaremos aptos para dar continuidade.

Então, contarei a história de Elsio, baseada em fatos imaginados...

Sempre um rapaz muito fugaz, Elsio era cheio de contar histórias. Um dia, contou a história da sua vida para uma garota com o qual gostaria de compartilhar doces momentos do porvir: fazendo muito sexo e bebendo muita cerveja. Essa garota gostou muito dele, então passou uma semana e ele veio a falecer. A vida foi, como sempre o é, imprevisível, mas até o ultimo dia de sua vida, Elsio viveu um sonho.

O grande êxtase da vida do rapaz poderia ter sido conhecer a garota, mas quem sabe não teria sido o sonho. E aí é que a reflexão prospera e entorna a vida do ser crítico, pois, como será que ele veio a falecer? Não sabemos se foi uma vítima de acidente, de uma doença ou suicídio. Nada se sabe, tudo se conjectura.

Mas e quanto à garota, que terá acontecido com ela? Será que teriam marcado um encontro ou trocado contato? Também não se sabe, não se sabe nem o que aconteceu a ela um dia depois. Talvez tenha descoberto sobre o que aconteceu com o rapaz, mas e se não? E se ela acha que ele sumiu, sendo um completo idiota, inescrupuloso, criador de ilusão, mente vil? Assim, então, o bom senso seria a vítima.

E, pensando bem mais longe, se a garota tivesse o matado? Quais seriam os motivos desse crime ilógico, ou talvez lógico? Melhor nem pensar...

Aparentemente, uma história tão curta, simples e sem sal ou açúcar como essa é tão dialética; mas teria sido assim, tão dialética, se fosse mais longa ou, por infelicidade da dislexia, mais curta? Pois é, tantas perguntas assim poderiam enlouquecer aquele que presta atenção nas mesmas; justamente por isso, gosto bastante dos críticos e sempre entro em atrito com os que dedicam suas vidas às provas de tudo, embora os admire. Seria loucura da minha parte? Com certeza!