O que é ser livre? Poder fazer o que se quer quando quiser?! Isso parece bem fiel ao conceito de liberdade, supostamente imutável ao longo da vida.
Pensando friamente, não tenho um pomar ou uma horta, mas mesmo que tivesse, não seria o suficiente pra me alimentar. Dependo de outras pessoas pra que simplesmente eu possa comer. O mesmo vale pra dormir de forma minimamente confortável. Ou seja, nossa vida é uma grande dependência das vidas alheias: dependemos de cada ser humano cumprir seu papel ou quase isso. E aqui nem falando de ética, nada disso, só o seu papel na sociedade.
Mesmo sobre linguística, nos apropriamos de uma linguagem pra poder nos comunicar e, sob suas regras e restrições, nos comunicamos. E não estou nem sendo inflexível, realmente dá pra conversar de forma bem informal, mas quanto mais fugimos da norma, fugimos de uma área comum que todos se entendem e deixamos de fazer sentido.
Com essas breves considerações, quero dizer que liberdade não é bem sobre fazer o que quer como quer, essa é uma noção no imaginário popular que entra em conflito com as mais simples questões da vida em sociedade. O ser humano é um ser social, e se você concorda comigo nisso, então concorda que ser livre não é sobre o fazer. Digo mais, ser livre é sobre o poder fazer.
Eu já entrei muito em conflito com a ideia de casamento, achava complicada uma relação ao mesmo tempo emocional, sexual e material com uma mesma pessoa. Isso porque o que eu chamo de liberdade liberal, aquela de fazer o que quer como quer, era o que eu entendia por liberdade, então esse tipo de relação a dois obviamente me incomodava.
Uma relação a dois saudável, com seus vários necessários defeitos, é uma ampliação dos horizontes; de viver com duas perspectivas, de ter gostos em duas perspectivas, de ter aprendizados por duas perspectivas, enfim, de ganhar novos poderes, o que é precisamente o que entendo por liberdade.
Daí que a cristalização da poesia da minha vida não é uma forma de prisão, muito pelo contrário, é forma real, é fazer-se viva por meio daquilo que falo ou escrevo, não só mas principalmente no contexto acadêmico/profissional. Por isso, sou tão grato às liberdades que ganhei com a minha companheira, porque ela me tirou de uma certa zona de conforto e me fez enxergar capacidades que eu desconhecia em mim e que se refletem naquilo que eu almejava antes mesmo de conhecê-la.
Porém este não é um texto sobre minha admiração, é sobre uma grande satisfação. Uma satisfação que não se mede e eu jamais poderia ter falado sobre ela sem antes estabelecer uma ideia do que é liberdade, porque sem essa liberdade eu jamais teria tido a chance de senti-la. Essa satisfação veio a partir da ressignificação, de aceitar que o mundo não é qualquer coisa até que seja de fato, veio por enxergar o que não via com minha limitada e só perspectiva.
O que me emocionou foi ouvir de uma criança de 11 anos que não tinha o menor interesse nos primeiros instantes em que entrei na classe, mas que depois de cerca de 1h30, quando concluí a aula, disse: "professor, sua aula é muito boa, você é o melhor!"
