Essa angústia no peito
Que esses violinos só acentuam.
Não consigo parar,
É tão linda ao passo que destrutiva.
Uma linha escrita sobre a superfície do músculo cardiovascular,
Como a dor da tatuagem que eu não fiz,
Enchendo de sangue qualquer parte do meu interior,
As que precisam e as que não,
Contaminando com a tinta suja
Misturada com o aço que se desprende das cordas
Pra me atormentar enquanto respiro sujo,
Ofegando sem encher meu peito de ar,
Me torturando por saber que eu não estou como gostaria,
Arrebentando com as minhas cordas vocais que não gritam
Porque não há voz a ser ouvida.
Há aqui uma incompreensão do meu ser
Que traz à tona todas as minhas dores
Minhas sensações tristes, meus dissabores
Que não compreendo de onde vem,
Seja na mistura da minha ansiedade
Com a tristeza febril que emana da primavera passada,
Com o tom ébrio de todas as vezes que me afogo num mar de livros,
Sem saber o que o futuro me reserva,
Como todos os outros,
Como todos os outros,
Com as dúvidas que apertam meus dias,
Com todas as contas que eu e somente eu preciso pagar,
Com o terapeuta que eu queria buscar,
Com os outros médicos que vivo a negligenciar
Enquanto sinto dor.
Meu Deus do céu!
É composição de J.S.Bach,
Mas machuca!
Sou tão forte quando não estou fragilizado,
Mas essa sonata é tão cruel.
Me fragiliza quando estou incerto,
Ouvindo Joy Division ou Radiohead,
Me torna fraco nessa harmonia
E me destrói quando acaba
Porque faz lembrar o quanto eu poderia ter sido forte,
Mas entrei de peito aberto,
Recebendo a estaca,
A crítica,
A faca,
A indiferença,
A crença
No absurdo!
E como um agnóstico
Não dei ouvidos a Ele,
Ouvi a eles.
Eles não sabiam de nada!
Só eu e Ele sabíamos,
Mas não fui sagaz,
Fui incompleto,
Incompetente,
Dei ouvido à minha mente
Atormentada pelas vozes
Que repetiam trechos que eu disse,
Como aqueles que também disseram,
Na esperança de me fazer bem...
Que eu penso que foi na esperança de me fazer bem.
Agora são tantas as pessoas,
São tantos os compromissos,
Aparecem as queixas,
A vida adulta que me inferniza até mais que a outros adultos,
Que não é de mim para mim,
Junto com tantos acontecimentos,
Mesmo quando agora eu deveria estar tão calmo,
Quando cada lágrima escorre como se meu rosto fosse o vidro de um ônibus
Num dia de chuva,
Num dia de chuva!
E eu só queria um abraço apertado
De alguém não tendencioso
Num lugar tão longe e desconhecido
Que fosse passar despercebido
Pra qualquer transeunte.
Todas as minhas paixões me machucaram,
Meu único amor me machucou,
Tudo que compartilha meu DNA me machucou,
Tudo que eu esperava que fosse honroso me machucou,
Mas pessoas machucam.
A sociedade machuca,
A Matemática machuca,
A felicidade machuca,
Até a droga desse violino lindo machuca.
E não é por isso que eu penso em desistir,
Eu não quero desistir nunca de nada do que eu já não desisti.
Só não sei como é possível,
Só não sei como é possível.
Também me incomoda estar melancólico,
Eu amo sorrisos.
Mesmo o meu,
Mesmo o de quem eu não conheço,
Mesmo o de quem já me fez mal,
Mas não corrobora com isso o que venho sentindo.
Só mais uma crise passageira.