sexta-feira, 8 de novembro de 2019

Dualidade de sexta

Eu gosto de como o café se apresenta depois de um trago de cigarro.
Eu gosto de tragar um cigarro depois de um café.
Resumindo, gosto de café. E de cigarro.

É normal dizerem que faz mal à saúde aquilo que, na dualidade do mundo, também faz bem.
Mais mal, mais bem, enfim, pra quem?!
Ainda, é corriqueiro dizerem que é ruim aquilo que dizem que faz mal à saúde.
Também é usual dizerem que aquilo que é ruim é o diabo.
Mas sabe que já nem sabem que diabo nem mesmo diabo é.

Queria escrever sobre a burguesia, sobre o quanto está fadada ao sofrimento; o de carregar um ódio a si inerente a si, mas estou pensando mesmo em como vou justificar que não estou tendo recaídas sobre meu vício em cigarro, que já enterrei no passado. Eu amo cigarro e odeio a burguesia, mas sou empático, não é pessoal, aliás, poderíamos jantar juntos, eu até pagaria a conta se comêssemos onde eu sugerisse, quantos burgueses fossem.

O mundo é tão dual que se disserem que é bidual, tridual, infinitodual, eu só vou acenar a cabeça concordando. Vou falar o que? Que é mentira? Tento falar sobre o que quero, mas o que quero não é um, mas dois. E os dois são, cada um, um, que na verdade é dois. É a antítese, é a cópia não igual, é o gêmeo não idêntico. É o quanto a Bruna não sai da minha cabeça, mas aí é uma, não duas.

Tudo se combina num pensamento dualizado. Double think? É também, mas não é Orwell, é Atwood. Se é Denis, pode ter matemática. Se é Matemática, tem Denis? Não, porque não sou dual à Matemática, embora talvez gostasse; sou infinito e a Matemática também, mas somos infinitos muito diferentes.

Escrevo assim e talvez digam que estou chapado. Não estou, é que quero confrontar uma ideia consigo mesma até que se torne duas e eu exiba que as duas são opostas, embora gêmeas. Eu nunca entendi esse lance de emaranhamento quântico, mas é uma ideia similar, acredito.

Enfim, resta dúvidas que este texto é sobre burguesia e cigarro?

domingo, 1 de setembro de 2019

Sendo eu

É sobre mim,
Não sendo narcisista,
Sendo eu.

Minha significação,
Meu contexto e histórico,
Meu contexto histórico
Do meu próprio ponto de vista.

Era tão difícil reconhecer-me estranho,
Uma fantasia que eu mesmo desenhara.
Sabia que não era só aquilo,
Mas aquilo me enfeitiçara.

Tinha uns traços sérios,
Demasiadamente rebuscados.
Nem parecia que eu não era, embora estava.
Nem parecia que eu viria a ser, embora estive.

Um passado sombrio de que tanto me foi cruel,
Eu fiquei deslocado por longos três anos
E era apenas um adolescente.
À flor da idade.

À flor da idade.

Houve o que me machucasse muito mais,
Houve o que me pusesse pra baixo,
Sem perspectiva de felicidade ou vida,
Mas nada comparado ao meu esquecimento como ser.

domingo, 3 de março de 2019

Como lidar com a ansiedade ou a tristeza

Aceita-a,
Consuma-a,
Sinta-a,
Afogue-se nela,
Respire-a,
Extasie-se dela,
Torne-a insuportável,
Resista,
Resista,
Resista.

Segure-a como se fosse um orgasmo,
Segure-a firme e tente explorá-la.
Chega uma hora que não faz nem sentido,
Chega uma hora que vai embora.

É assim que eu aprendi a me lidar, a ansiedade e a tristeza são duras, mas eu sou muito mais! Só existe hipertrofia com dor e aceitação. Aí você fica forte e pronto! Tudo torna-se pequeno e o que te resta é controlar tamanha força, sem se superestimar. E Deus ajuda.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2019

Apenas a ansiedade novamente

Essa angústia no peito
Que esses violinos só acentuam.

Não consigo parar,
É tão linda ao passo que destrutiva.

Uma linha escrita sobre a superfície do músculo cardiovascular,
Como a dor da tatuagem que eu não fiz,
Enchendo de sangue qualquer parte do meu interior,
As que precisam e as que não,
Contaminando com a tinta suja
Misturada com o aço que se desprende das cordas
Pra me atormentar enquanto respiro sujo,
Ofegando sem encher meu peito de ar,
Me torturando por saber que eu não estou como gostaria,
Arrebentando com as minhas cordas vocais que não gritam
Porque não há voz a ser ouvida.

Há aqui uma incompreensão do meu ser
Que traz à tona todas as minhas dores
Minhas sensações tristes, meus dissabores
Que não compreendo de onde vem,
Seja na mistura da minha ansiedade
Com a tristeza febril que emana da primavera passada,
Com o tom ébrio de todas as vezes que me afogo num mar de livros,
Sem saber o que o futuro me reserva,
Como todos os outros,
Como todos os outros,
Com as dúvidas que apertam meus dias,
Com todas as contas que eu e somente eu preciso pagar,
Com o terapeuta que eu queria buscar,
Com os outros médicos que vivo a negligenciar
Enquanto sinto dor.
Meu Deus do céu!

É composição de J.S.Bach,
Mas machuca!

Sou tão forte quando não estou fragilizado,
Mas essa sonata é tão cruel.
Me fragiliza quando estou incerto,
Ouvindo Joy Division ou Radiohead,
Me torna fraco nessa harmonia
E me destrói quando acaba
Porque faz lembrar o quanto eu poderia ter sido forte,
Mas entrei de peito aberto,
Recebendo a estaca,
A crítica,
A faca,
A indiferença,
A crença
No absurdo!

E como um agnóstico
Não dei ouvidos a Ele,
Ouvi a eles.

Eles não sabiam de nada!
Só eu e Ele sabíamos,
Mas não fui sagaz,
Fui incompleto,
Incompetente,
Dei ouvido à minha mente
Atormentada pelas vozes
Que repetiam trechos que eu disse,
Como aqueles que também disseram,
Na esperança de me fazer bem...
Que eu penso que foi na esperança de me fazer bem.

Agora são tantas as pessoas,
São tantos os compromissos,
Aparecem as queixas,
A vida adulta que me inferniza até mais que a outros adultos,
Que não é de mim para mim,
Junto com tantos acontecimentos,
Mesmo quando agora eu deveria estar tão calmo,
Quando cada lágrima escorre como se meu rosto fosse o vidro de um ônibus
Num dia de chuva,
Num dia de chuva!

E eu só queria um abraço apertado
De alguém não tendencioso
Num lugar tão longe e desconhecido
Que fosse passar despercebido
Pra qualquer transeunte.

Todas as minhas paixões me machucaram,
Meu único amor me machucou,
Tudo que compartilha meu DNA me machucou,
Tudo que eu esperava que fosse honroso me machucou,
Mas pessoas machucam.
A sociedade machuca,
A Matemática machuca,
A felicidade machuca,
Até a droga desse violino lindo machuca.

E não é por isso que eu penso em desistir,
Eu não quero desistir nunca de nada do que eu já não desisti.
Só não sei como é possível,
Só não sei como é possível.

Também me incomoda estar melancólico,
Eu amo sorrisos.
Mesmo o meu,
Mesmo o de quem eu não conheço,
Mesmo o de quem já me fez mal,
Mas não corrobora com isso o que venho sentindo.

Só mais uma crise passageira.

domingo, 20 de janeiro de 2019

Sobre humildade e perdão

Como aprendiz das Ciências e Matemática e também da religião Católica, procuro abusar da minha paciência para meditar e então discernir conhecimentos. Assim, enquanto ser social, eu posso ajudar na compreensão de mais uns tantos interessados em questões próximas das que eu também estou aprendendo. Além, é claro, de abrir espaço para que complementem minhas próprias ideias.

Sempre tive comigo que nenhum conhecimento deve ser restrito, a menos que por necessidades maiores de amadurecimento. Eu não poderia ensinar Geometria Diferencial (supondo que eu estivesse apto a isso) para um jovem de ensino médio; não é tempo, faltam muitas coisas a se adquirir, inclusive amadurecimento. Assim, a meditação acompanhada de uma boa análise escrita me parece uma graça ao bem comum.

O texto seguinte é bíblico, é o capítulo 12 da Epístola de Romanos. Esse texto emaranha-se com alguns pesares internos que tenho feito. Buscar ser melhor, seguindo a perspectiva cristã, é também confrontar-se diariamente e isso não é nem de longe ruim. É melhor quebrar-se a si internamente a ser quebrado por forças exteriores: não é só o peso do orgulho que machuca, mas o sentimento de ausência de amor do próximo, que também é mencionado.

"Eu vos exorto, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, a oferecerdes vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus: é este o vosso culto espiritual. Não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso espírito, para que possais discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, o que lhe agrada e o que é perfeito.

Em virtude da graça que me foi dada, recomendo a todos e a cada um: não façam de si próprios uma opinião maior do que convém, mas um conceito razoavelmente modesto, de acordo com o grau de fé que Deus lhes distribuiu. Pois, como em um só corpo temos muitos membros e cada um dos nossos membros tem diferente função, assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós é membro um do outro. Temos dons diferentes, conforme a graça que nos foi conferida. Aquele que tem o dom da profecia, exerça-o conforme a fé. Aquele que é chamado ao ministério, dedique-se ao ministério. Se tem o dom de ensinar, que ensine; o dom de exortar, que exorte; aquele que distribui as esmolas, faça-o com simplicidade; aquele que preside, presida com zelo; aquele que exerce a misericórdia, que o faça com afabilidade.

Que vossa caridade não seja fingida. Aborrecei o mal, apegai-vos solidamente ao bem. Amai-vos mutuamente com afeição terna e fraternal. Adiantai-vos em honrar uns aos outros. Não relaxeis o vosso zelo. Sede fervorosos de espírito. Servi ao Senhor. Sede alegres na esperança, pacientes na tribulação e perseverantes na oração. Socorrei às necessidades dos fiéis. Esmerai-vos na prática da hospitalidade.

Abençoai os que vos perseguem; abençoai-os, e não os praguejeis. Alegrai-vos com os que se alegram; chorai com os que choram. Vivei em boa harmonia uns com os outros. Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com as coisas modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos.

Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens. Se for possível, quando depender de vós, vivei em paz com todos os homens. Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mas deixai agir a ira de Deus, porque está escrito: A mim a vingança; a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Deut 32, 35). Se o teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber. Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça (Prov 25, 21s). Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem."
São dois os pontos que nesse momento me interessam discorrer em conjunto. Não podendo deixar de mencionar a frase creditada a Freud, "quando Paulo me fala de Pedro, sei mais de Paulo que de Pedro", já que existe um eu muito marcante e pessoal na interpretação desses pontos.

  • "Não façam de si próprios uma opinião maior do que convém, mas um conceito razoavelmente modesto, de acordo com o grau de fé que Deus lhes distribuiu. (...) Não vos deixeis levar pelo gosto das grandezas; afeiçoai-vos com as coisas modestas. Não sejais sábios aos vossos próprios olhos."
  • "Abençoai os que vos perseguem; abençoai-os, e não os praguejeis. (...) Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens. Se for possível, quando depender de vós, vivei em paz com todos os homens. (...) Não te deixes vencer pelo mal, mas triunfa do mal com o bem."
A humildade é exaltada e é justamente onde me esbarro. Às vezes, sob as constantes pressões de uma sociedade que ainda tem (e tem bastantes) resquícios do American Way Of Life, onde você é o que você tem, sou tentado a baixar a humildade e atacar com carteirada, uma vez que sigo uma carreira que nesse trecho é mal-remunerada, mas tem o seu reconhecimento social. E nesse momento, somente o conhecimento ou ao menos a noção ética cristã me podem fazer repulsar a tentação, já que mesmo para o mal, só se deve responder com bem.

Não é do dia pra noite. Às vezes leva um tempo considerável até conseguir entender, aceitar e efetivamente agir assim. Ali atrás, eu disse sobre restrição de conhecimentos e isso também é válido sobre esse processo de humildade e perdão: é necessário amadurecer! E é nesse momento de amadurecimento que se deve permitir a entrada de Deus, de maneira suave, no coração. 

Há muitos caminhos! Não serei eu, insignificante na vastidão do universo, que direi que o meu caminho é o melhor. Ainda que eu sinta que Ele é o único que pode levar à serenidade plena, o único que pode levar ao bem comum, eu não tenho o direito de impor minha verdade a ninguém. Sou, também, um mero aprendiz, afinal.

Só que a entrada de Deus no coração não precisa ser entendida da forma espiritual, religiosa, como eu entendo. Se alguém faz pelo bem comum, de forma humilde e com coração, pra mim é Deus. Há e sempre haverá muitos fieis que não fazem ou farão do amor a Deus, com todas as suas implicações, o Norte de suas vidas. Aquele que o faz, mesmo que diga que não crê, se estiver envolto de respeito, tem minha admiração, respeito e vontade de que sinta em Jesus Cristo também aquilo que eu sinto para que encontre também a leveza que consigo sentir nos meus momentos mais sagrados.

É possível que eu também esteja pecando, mas essa é a minha interpretação e espero que seja levada em consideração apenas com reflexão.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Teria sido

Teria sido Leticia,
Sem nenhum pingo de incerteza,
Sem qualquer gota de malícia,
Muito menos frieza.

Teria sido Carol, intensa,
Era fora do seu tempo e tal,
Paixão platônica, mas pensa
Uma pessoa fenomenal.

Teria sido Flávia, também,
Tão inteligente e culta,
Café sem açúcar, tudo zen,
Sem aquela ausência que insulta.

Teria sido Gabi, então,
Um sorriso que transpassa a alma,
Mistura de esforço e combustão.
Deve ter faltado calma.

Uma eu senti carinho,
Outra não podia ser meu caminho.
Depois, a que mais admirei
E, por fim, a única que amei.

O ser humano não faz sentido,
É uma mistura muito louca:
Tem o ideal inato, o sentimento vivido
E a insensatez que não é pouca.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Praça da igreja

Bate o sino,
Crica o grilo,
Canta a cigarra
Melodia que amarra.

As flores exalam seu cheiro,
Deixando tudo ameno,
Que até num momento sereno,
O tempo passa ligeiro.

A poesia é um grito
De autores desavisados
Que até em momento aflito
Chegam a ser recompensados.

E nesse grito tão humano e ímpar,
Reside um louco inconsequente,
Sem nenhuma vertente,
Apenas admirando o estar.

Bate o sino,
Crica o grilo,
Canta a cigarra
Melodia que amarra.

Enquanto a imaginação do poeta vive,
Abençoada pelas euforias do cotidiano,
Ele sente, tão mundano,
As alegrias que também tive.

Eu não sou um desses,
Poesia não é o meu forte,
Escrevo com rimas e com preces,
Abusando da sorte.

Se hoje meu tom é melódico,
Ontem não era assim,
Era doloroso e sem fim,
Um tanto quanto melancólico.

Bate o sino,
Crica o grilo,
Canta a cigarra
Melodia que amarra.

Agradeço aos meus chegados
Pelo peso de sua fala!
Hoje eu já arrumei a sala,
Só me preocupo com alguns calçados.

Bate o sino,
Crica o grilo,
Canta a cigarra
Melodia que amarra.