sexta-feira, 6 de novembro de 2015

Dor no calcanhar

A dor do meu calcanhar
E o gelo do meu coração.
Existe toda uma união,
Que me impede de chorar.

Uma dor agoniante,
Culpa do último futebol,
Ou quem sabe culpa do meu Sol,
Que me deixa em momento frustrante.

Ela tinha sumido,
Nunca mais me dado um oi,
Ontem veio e me deixou perdido,
Mas neste momento já se foi.

Queria entender porque errei,
Porque tenho esse jeito meio inconstante,
Saber qual foi o exato instante
Em que me decepcionei.

Esse meu jeito meio sem sal
Esconde uma centena de sentimentos
Quem sabe num desses momentos,
Eu descubra algo crucial.

Ela mexe comigo
E com a minha poesia,
Não me sinto seu amigo
Nem na sombra da fantasia.

Deve ser porque eu sou diferente:
Racionalmente, um cara centrado;
Espiritualmente, desastrado;
Tenho um coração surpreendente.

Faço coisas inimagináveis no violão,
Escrevo linhas das mais bonitas no caderno,
Mas toda minha vida parece um inferno,
Porque dela vivo com o não.

Espero que um dia tudo mude,
Pra que mais nenhum amigo comente,
Pode ser uma mudança de atitude,
Da mais inconsequente.

Só não quero mais chorar,
Porque muito me dói o calcanhar.

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Lá vamos nós: para a Terra do "Tudo vai mudar, é sério"

Sabe que ano passado foi a mesma ladainha? Eu já começo reclamando porque estou fazendo a mesma coisa de um ano atrás: promessas! Pelas tranças do rei careca, benditas essas promessas que parecem tão bonitinhas e motivadoras, mas no fundo são apenas conversa pra boi dormir. "O ano que vem será diferente, o ano que vem será diferente..."

Virou rotina! Eu já não aguento mais essa falta de responsabilidade revolucionária - isto é brincadeira, ok? - que nem me deixa desenvolver ideias, planos e todo aquele etc. Por quê? Porque ora aparecem aquelas paixões de 1 semana, ora aparece aquele emprego dos sonhos de quem nunca dormiu, ora aparece aquele "vou estudar acima de todas as coisas", como um mandamento religioso. E o que acontece? Nem um, nem outro.

A vida é de uma dureza, que nem aqueles diamantes artificiais mais duros cortam, sério mesmo! Quer ver um exemplo? Dirigir! Sempre um confronto mental do "eu queria dirigir", "pra que dirigir?", "não tenho dinheiro pra dirigir", "dirigir não é sustentável", "não tem nem espaço pra dirigir" e também o dirigível. Não. Sem dirigíveis, isso é muito "memória antiga"!

Sabe aqueles textos pesados dos autores clássicos? Então, deixe-os de lado, porque eu não tenho classe. Eu quero falar simples (ao menos, dessa vez) para tentar expor o grande problema. É como aquelas músicas de protesto, aquelas mensagens dos autores clássicos - relaxa, só me refiro à mensagem - e aqueles tantos outros recursos linguísticos falados, escritos ou desenhados, só que voltado a mim mesmo.

"Eu sou um bosta", já pensou se eu digo isso? Não, eu sou um grande homem, só que meus devaneios surpreendem muito. Sou como uma torre em construção numa região de terremotos: sempre ruindo, de forma que minha base é cada vez maior. A diferença é que torres têm uma planta com uma altura determinada, eu não. Na verdade, até tenho essa planta, mas como estou falando simples, deixa pra lá essa parada de determinismo antropológico, social, blablablá, embora exista e seja crucial.

O interessante é que eu tenho essa consciência e sempre procuro me corrigir, mas me ensinaram que a natureza é preguiçosa e sempre procura o caminho mais fácil. É sério, qualquer técnico com formação em eletrônica, elétrica ou afins aprendeu isso. Ou seja, me ensinaram isso de verdade, não estou dando falsa lição de moral.

Aí, o que acontece: eu tenho o plano, vejo a brecha e TCHARÃ - onomatopeia furada! -, eu estou num outro caminho pensando no mesmo fim. O fim, é claro, ser feliz.

Ser feliz é um objetivo perfeito! Você pode mudar o rumo da vida a qualquer hora e quando muda, a justificativa é brilhante: mudei porque quero ser feliz e não estava sendo daquela forma. Droga! Eu tento fugir do DASB (Determinismo Antropológico Social Blablablá), mas não dá! Uma hora você tem que perceber que o meio que você vive é importante demais na sua formação de pessoa e nessas mudanças radicais.

É o tal negócio, eu quero ser um matemático bem sucedido e feliz, mas também queria curtir muito a vida porque eu cresci sendo alimentado com esse desejo de curtição, não tão adoidada, mas nem tão robótica. O meio que tenho vivido também me influenciou pra que eu quisesse ser um matemático bem sucedido e feliz, não excluo minha alienação. Mas quem garante que semana que vem eu já não queira estudar filosofia? A única certeza é que da academia eu não saio, porque eu amo essa vida universitária de cervejas, cafés e livros chatos que eu acho da hora.

Sim, estou pleno de que posso me firmar no meu rumo e corrigir meus deslizes, mas sempre que começo a fazer a correção, toca o sinal e tenho que entregar a prova. É, você me entendeu. Eu reclamo, reclamo e reclamo, porque sempre penso com o sinal fechado e quando vou tomar as decisões, ele abre. Ou toca. E aí, já sabe, né? Lá vamos nós novamente.

sábado, 5 de setembro de 2015

Poeta, por construção

Éramos três, Rosa, Carlos e eu.

Contávamos histórias todos os dias que nos víamos, eu gostava disso, Rosa também. Carlos também, mas acho que Rosa mais; tão bem elaborada num ser, tão bem laboriosa na sua poesia. Ela gostava de fazer poemas com deuses, os deuses da poesia. Citou Poe, Ginsberg, até Vinicius, se você for acreditar no que digo.

Descobri a poesia de Rosa quando fazia minhas voltas matinais, só pra fugir do clichê e, até ir além, pra contracultura da época, fazer uma volta bem vagarosa, sem música ou a identificação [mental] de trabalhador. Eu era um nada, Rosa um tudo, vivia na nona esquerda, primeira direita. Rosa tinha daquele jeito meio generoso de falar nada e encantar, como eu iria saber que ela era assim?! Seus versos eram poesia e, mesmo que em prosa, rimavam com a sintonia do meu encanto. Era um dia comum e vi ela despida de preconceitos escrevendo uma peça, um poema ou sabe-se lá o que.

Em Carlos, eu via vultos de sapiência, algo acima da média quando existente. Carlos era realmente excelente escritor, escrevia tão bem, que chegava a fingir que era dor a dor que deveras sentia, ou qualquer coisa do tipo, porque ele era bom mesmo, verdadeiro poeta. Mas acredito que passar uma mensagem acima da média muito poucas vezes não o tornava necessariamente boa pessoa. É que até o "nada" dele era tudo, esse tinha o dom! Mas desde quando poesia é verdade?! Acho que apenas um vício dele, diferente do que acontecia comigo e com Rosa.

Pra mim, a poesia era tudo, Rosa também pensava isso. Chegou a me escrever uma carta com um acróstico do meu nome, fiquei todo emocionado ao ler:

"Vamos à luta,
Lá onde eles estão,
Alemães ou não
Digam adeus ou usaremos força bruta.
Intensificaremos a batalha,
Machistas não passarão,
Isso é o que eles ouvirão,
Ruindo ao sentir nossa navalha."

Foi diferente de todas as outras vezes, ela me deu esse num final de semana de muita chuva, senti um tom romântico nas suas palavras, acho que estávamos flertando e o clima frio e umedecido intensificava a sensação de perfeição. Sabe, não é sempre que encontramos alguém tão especial, fui acertado com a flecha do mais bondoso cupido. Queria saber seu nome (de cupido) para que Carlos pudesse achar alguém.

Carlos tem mesmo essas crenças estúpidas do sobrenatural, lembro como se fosse ontem, quando num porre, me disse sobre cupidos e eu adotei a ideia pelo simples fato de ser conveniente. Não faz sentido, eu sei, mas os poetas têm disso. Esse é meu amigo, mas fala muitas asneiras, fala demasiadamente de lutas em trincheiras, fala tanto de um tal de anjo, que eu chego a achar ele meio problemático. Acho tudo bem você não acreditar numa mão invisível, mas ele fala de uma ideologia muito atrasada, como se todos pudessem ser iguais.

Bom, já que estou falando dele, sua mãe o chama de Marcos, vai entender! Carlos Marcos, já pensou que esquisito? Eu não tenho nada contra, mas o cara fala muita asneira. Uma vez ele queria fazer sua manifestação e até aí, não tenho problema, mas ele escreveu um manifesto! Eu não acreditei, ainda mais quando ele disse que escreveu junto do tal anjo. Cara, não faz sentido! Mas tudo bem, cada louco com sua loucura, a vida é mesmo louca.

Eu estava envolvido nos círculos literários, sabia a poesia de todos, mesmo assim, só a de Rosa me encantava, não sei, acho que o brilho de seu olhar era o toque final. Não vou mentir, eu era um cara inteligente, de verdade. Sabia tudo de todas aquelas escolas, aqueles pensadores, mas juro que minha tara era a poesia. Uma vez, deixei a caneta fluir e compilei o pensamento do círculo mais próximo. Fiquei famoso, mesmo que sem entender; eles gostavam de tão pouco!

A frase mais marcante foi daquele sem-noção do Léo, "pela primeira vez, uma poesia decente". Ele fazia pra provocar, sei disso, era famosinho e tal, mas vivia me lendo. Eu nem retruquei, só encarei aquilo como o primeiro elogio decente vindo dele. Léo não fazia parte do 'nós', éramos Rosa, Carlos e eu, somente. Escrevi então meus versos que compilavam a arte dos meus próximos:

"Trabalhadores do mundo,
Ou meus caros camaradas,
Bloqueemos quaisquer concepções erradas.
Rebusquemos no fundo
Isso tudo que queríamos dizer
Nesse mundo de opressão.
Calemos as vozes dos delegados,
Aqueles que não nos representam!
Não precisamos de sindicatos corruptos,
Degolaremos aqueles que se opuserem
Ou não seremos dignos da revolução!"

Palmas! Rosa ficou feliz, Carlos também. Quando os pronunciei, todos no sarau aplaudiram de pé, foi um momento único. Pra falar a verdade, foi o momento crucial pra perceber que eu tinha me encontrado. Poeta dos versos verticais, muito original, muito artístico. Idiotas! Eles não tinham entendido a mensagem.

Dias depois, voltando para casa, Rosa e Carlos me abordaram e disseram algumas palavras estranhas. Nunca mais os vi, acho que isso é consequência da poesia. Perdi um grande amigo e um grande amor, agora eu era poeta completo. Ainda hoje, lembro de toda aquela brincadeira, toda aquela arte, toda encenação, acho que nunca mais vim a ser tão feliz quanto naquela época. Foi bonita, fiquei contente.

domingo, 23 de agosto de 2015

Quem somos nós?

Esta é uma conversa informal, então esquece tudo.

Esquece tudo!

Finja que estamos somente eu e você aqui. Finja que 'aqui' é um lugar qualquer que não importa, pode ser Tóquio, pode ser La Paz, pode ser Nova Iorque. Finja que 'eu' não sou quem deveria ser, mas vá além, finja que eu sou algo de dentro de você. E quanto ao tempo, finja que não estamos no agora, seja bem específico em relação ao tempo: finja que a vida acabou de começar; a sua vida.

Parece que, e mesmo com tantas peculiaridades, eu nasci este ano. Esse fenômeno de ter nascido e não renascido, uma vez que já estava vivo, eu chamo de me descobrir. Eu me descobri muito e ainda posso descobrir muito mais, acho que essa é a tão pura busca da fé. Por favor, não esqueça que eu faço parte de você.

Vivemos um curto momento, un rato, onde a vida se torna propensa somente a este momento. Saiba aproveitá-lo. Depois dele, é possível que nem existamos mais. Eu quero existir, quero que você exista, mas a existência depende muito mais de algo que vai além de mim, de você e de qualquer coisa intrínseca a você. Enquanto estiver vivo, você existirá, porque tem consciência de que existe e isso basta. Mas e quando não estiver mais; quando sua respiração passar a ser tão silenciosa que nem mesmo ela ouvirá a si mesma, será que você continuará existindo? Eu tenho diversos palpites! Mas somente me investigando, você os descobrirá. Ou não.

Quero que você confronte seu passado com seu presente, quero que busque o melhor entre cada um dos dois e quero que compare-os com suas expectativas. Quero que pense "será que estou realmente no caminho certo?" e quero que entre em conflito, mesmo que por absurdo, com toda e qualquer resposta positiva para esta pergunta. Evite conflitos inúteis, aceite que pode sempre melhorar, eu faço parte de você: eu não existo sem você. E o comodismo... o comodismo me mata! Eu quero ser sempre uma novidade e não uma estória desinteressante.

É importante buscar sua fé! Sua fé não depende do sobrenatural, depende de si, mas isso não significa que o sobrenatural não possa ser muito importante para sua fé e para você. Por isso, é importante saber a melhor forma de estabelecer limites a si mesma; uma pessoa que duvida de tudo não tem referencial e, portanto, está perdida. Não adianta simplesmente dizer que o Universo é infinito demais para estabelecer um limite, até porque você viveu toda sua vida numa superfície fechada, o Planeta Terra, e mesmo assim não esteve em todas as suas partes.

Contudo, não vá achando que eu não acredito numa vida infinita, eu acredito nela sim. E é por acreditar na infinitude da vida que peço que você saiba seus limites, mesmo que eles estejam no infinito. Sabe, faço parte de você e eu poderia te surpreender todos os dias da sua vida, é impossível que essa sensação não venha de algo infinito. É importante que entenda; é importante que saiba; é importante que sinta: a infinitude vem de você!

Pense na nascente de um rio: existe todo um ciclo para que águas venham parar na nascente, mas independente disso, ela existe e vai alimentando um rio, lotado de história e, muitas vezes, estórias. Dá pra perceber que a nascente é uma representação do infinito? Antes dela, o não-rio; após, o rio. Lembra da matemática, do limite? Um número que não seja o zero, dividido por algo bem pequeno, bem próximo de zero, praticamente o zero, no limite, tende a infinito. Agora compare o que vem antes e o que vem depois da nascente: se você dividir o rio pelo não-rio, uma quantidade por uma não-quantidade, um número diferente de zero pelo zero, o que você tem?

O infinito é só uma representação, é só um conceito, é só uma tendência; é uma utopia. Mas é graças a essa utopia que maravilhas foram, vem sendo e serão criadas. Mas não se atenha a esse conceito, não tente enquadrá-lo ao seu dia-a-dia: não dá! Mas dá pra fazer parecido, dá pra fazer um caminho belo, dá pra fazer um caminho que busca a paz, dá pra fazer um caminho que busca a transcendência. Só que não espere que eu vá te dar as dicas, eu te amo demais para fazer isso!

Eu quero que eu e você estejamos no caminho, um dia, de mãos dadas, olhando uma estrela-guia a dez passos de nós. Mais perto do que isso, poderíamos nos queimar; mais longe, nos congelar. Eu sei que não dá para nos sentar, estrelas-guia não param, mas um dia aprenderemos a voar e tudo ficará bem.

Mas não se esqueça de que a vida é infinita, 'nós' poderemos deixar de ser apenas eu e você, mesmo que daqui a um minuto. Se eu ficar pra trás, você saberá o que fazer; se eu deixar de existir, nunca terei existido.

quinta-feira, 2 de julho de 2015

Sob semana de prova


Quando tantas soluções forem possíveis a ponto de especular o melhor lugar do qual a queda despencará qualquer suspeita de vida, quando o momento for esse, significa que há algo de errado.

Eu trago significados e aprendo significados todos os dias, qual será o que acompanha essa sensação? Um clima depressivo, diferente das últimas vezes, que traz à tona lembranças do filme Sociedade dos Poetas Mortos, que traz à tona lembranças do livro O Apanhador no Campo de Centeio. Será que posso ensinar, se tenho tanto a aprender? Será que posso ler, se minha mente tanto grita ao avistar palavras?

Acho que estou num momento difícil. As pessoas estão perdendo seus significados emocionais, o que significa que meu coração está vazio, porque além de pessoas, é muito pouco o que sobra para se amar. Tenho uns amigos, alguma coisa como 'família', umas paixões de ônibus e muito saudosismo. O saudosismo é fundamental neste momento. E em uns outros, quem sabe.

Na verdade, descobri que é possível traumatizar o cérebro com matemática e isso é algo muito complicado, dizendo eu, adepto a matemático. É possível que essa sensação que não sei descrever, mas que é muito ruim, seja decorrente disso. Acredito que não, gosto muito de matemática. Acontece que da garota que adquiri sentimentos mais profundos que veio a pior dor que senti, até então não chorava nem em velórios. Então não descarto a possibilidade da matemática.

O problema é que me sobrecarreguei de preocupações! Eu tenho sido muito assíduo na academia, não deveria ser um problema o excesso de avaliações num espaço de tempo tão curto, mas acaba acontecendo. Eu odeio provas! Provas sempre me desestabilizam emocionalmente, de uma forma que é possível que tudo isso que escrevi (e de fato penso) deixe de ser verdade daqui a 2 semanas.

Ah! Quer saber? Eu pretendia escrever um longo texto quando comecei, mas estou extasiado, então, que Cartola fale por mim:

terça-feira, 31 de março de 2015

O último cigarro

Eu derrubei três leões e, mesmo assim, não me tornei gladiador... eram quatro. E o quarto está me engolindo, enquanto estou de cama, sem qualquer pretexto pra sair à garoa. Às vezes, chove e eu não quero me molhar.

Um dos leões que estão mortos é o tão mais importante dessa minha história, que, por ter sido o mais fraco e, é claro, o mais fácil de derrubar, deixou uma relíquia comigo, que a ele honrarei quando for a hora. A hora é um momento tão obscuro e duvidoso, que eu preferiria dizer que nunca mais aconteceria, não fosse tão difícil e tão antiético para com esse meu adversário gentil.

Quanto mais complicado um problema é, mais complexo ele é. A complexidade dos problemas é aquela rede que os une e torna mais difícil solucioná-los. O trabalho em equipe dos adversários é justamente essa complexidade, que me complicou quando consegui derrubar o terceiro leão, acabando com as minhas forças e me deixando ao chão, com a percepção mais limpa e com pouco tempo até que o quarto surgisse para me engolir. Estava tudo combinado e eu fui o único que não percebi.

O segundo leão caiu quase como o primeiro; eram gêmeos. O segundo não está necessariamente morto, é como aqueles clichês tristes - "viverá na mente" - que têm muito mais que um fundo de verdade. Um leão influente que está na mente de praticamente todos, um leão muito extrovertido, porém, ainda assim, frágil, já que ostenta o seu veneno nas palavras que conduz. De qualquer forma, é muito complicado dizer que o derrubei, ele é o senhor da relatividade: podemos, eu e o mundo, ter "caído" e ele ter se mantido imóvel. Para o vencedor, a vitória é fruto do referencial e não mais que isso.

Há muitas razões por trás de quando consideramos estarmos bem. Como dizia um piche nas margens do rio Aricanduva, "Não adianta dizer como me sinto para quem não sabe sentir" e tentando puxar um raciocínio parecido e que eu vivo dizendo: não dá pra ser feliz sem saber como é ser triste. Sendo sincero, isso está muito além de sensações pessoais, vai mais para uma questão psicológico-social: o 'eu' não sabe quando não tem problemas, já que a ausência de problemas não é absoluta e um pequeno problema fará esquecer de todas as demais perspectivas que podem estar sem problemas.

Estamos no terceiro leão e ele é o mais forte de todos os leões, incluindo o quarto. Seus olhos lembram os de aranhas, já que observam de muitos ângulos diferentes; suas garras lembram as de águias, com toda sua precisão; seus braços lembram os de polvos, pois são inúmeros e se camuflam; seu corpo lembra o de cobras, pois é flexível; e seu coração lembra o de um ser humano, já que é cruel e desatencioso. Esse é o único que tenho certeza que morreu: o sangue nos olhos proporcionou sua cegueira e um abismo entre nós, o que fez com que ele caísse na sua própria armadilha. Não foi fácil, mas com um pouco de coragem e perseverança, dei pulos mais altos que os dele e não me deixei cair.

A vida não permite o descanso depois que ensina que é necessário correr. Vivemos tão bem quando criança: sem muitas preocupações próprias, sem muitas tentações vis, sem muitas desilusões - e foi muito difícil fazer essa generalização infeliz, porém útil, sem puxar para um discurso social. Depois crescemos e começamos a correr, sem ter tempo sequer para amarrar o cadarço. É complicado mesmo, mas não dá pra fazer como alguns loucos, que tentam amarrar enquanto correm e toda vez, como imaginamos, caem. Viver é dinâmico e você não pode parar o espaço para observar o tempo, nem parar o tempo para observar o espaço. Sabendo isso, você deve tomar cuidado e não parar, nem deixar de olhar para os lados, nem para trás.

Minha surpresa apareceu quando eu já estava comemorando, pensando que a liberdade estava sob a palma das minhas mãos. Ele sabe falar, gosta das mesmas coisas que eu, é um leão diferente de toda forma de vida. Se tivesse outro nome, seria Excêntrico, mas prefiro chamá-lo de Outro. É um leão em forma de pesadelo, mas tem compaixão. Um nobre leão. Esse trabalha com a ilusão e te prende numa gaiola. Esse eu não sei explicar, mas não é nada fácil. Espero encontrar sua falha antes que eu mude.

E só para não dizer que sou um falso, o primeiro leão era meu amigo.