quarta-feira, 1 de maio de 2013

L de Linha Ignorante

Chove sangue. Desconcentrado, permaneço estático na perplexidade; atônito, conspiro sobre minha força de reação; poético, utilizo de metáforas erradas. Já faz tanto tempo...

Ficou no fundo do peito, acho que a essência, que hoje é tão distorcida, tão desviada. Eu tinha minhas dúvidas sobre o futuro, aquele que hoje vivo; e terei por muito mais tempo a dúvida do outro futuro, aquele que é daqui a 2 horas. Tudo muda incessantemente, o futuro faz parte desse tudo. E acho que a principal mudança ocorre na concepção do mundo e concepção de mundo, só pra não dizer que a essência sofre mutação. Que medo de pensar nisso (a mutação da essência) como verdade!

O eu entrou em desencanto desde a primavera. Qual? Qual primavera? A do oito de outubro. Consegui até ver o melhor de muitas flores, mas aquela que tem toda uma conotação mística ficou somente na lembrança a partir desse dia.

Talvez eu esteja equivocado em dizer tão abertamente, de maneira tão indireta, isso tudo que procuro afundar no mar de memórias. Entretanto, 'talvez' é uma palavra furada, que vive sob a certeza da incerteza. Pode ser o inverso, mas insistir nessa semântica é má utilização do tempo. A ver que assim tudo parece ser tão confuso, a simplicidade da ignorância até escapa por alguns minutos. Porém, eu estou precavido! A ignorância é simples e o problema é mesmo esse. Se fosse complicado, eu poderia inventar verdades, só pra escapar da culpa e ainda sairia ileso.

A ignorância não é tema, nem assunto, nem orgulho; é um fato! Em cada um se manifesta um tipo diferente de ignorância. A minha é deplorável, estúpida, burra. Mas isso é problema? Não, não é. Todos, assim como eu disse, têm essa ignorância, que é tão característica quanto aquelas grandes virtudes, que nem sempre são observáveis, mas sempre estão presentes. E, sim, virtude é tema, assunto, orgulho e também fato.

Ouvi certa vez que beleza sem virtude é como uma rosa sem fragrância. O que, pra mim, foi patético, pois detesto o cheiro de rosas, lembra-me o cheiro de cemitério; péssimo! Poderia ter sido dama da noite ou qualquer outra daquelas flores, cujo não sei o nome e mesmo assim reconheço o cheiro agradável. Aí sim o sentido do ditado seria mais preciso, todavia não é. Que pena!

Agora sendo mais preciso, só pra conseguir relacionar a virtude com a ignorância e, por conseguinte, com a minha ignorância. Sei que muitas vezes o céu dessa minha cidade traz consigo a sujeira e melancolia que ficaram omissas durante todos os outros dias e é exatamente esse o grande apogeu da criação, a maximização da inspiração e também a carência eminente. Pode ser paradoxal à medida que é bom e ruim, mas ainda assim é bem definido, com cada aspecto representando somente um lado bom ou ruim. E a ignorância, quando analisada por completo, se enquadra exatamente nisso.

Exemplificando, por meio de generalizações, é claro, tem-se exatamente essas antíteses: o ato ignorante é burro, isto é, ruim; o pensamento ignorante é ruim como fim, mas é bom como exercício da mente; a reação imediata à ignorância é ruim, já a reação após certo tempo é boa, considerando que há aprendizado; o exemplo que fica é bom; dentre inúmeras outras considerações. Daqui, tem-se o paradoxo de que ela - a ignorância - é boa e ruim, como também tem-se que ela é equilibrada, por cada aspecto estar bem definido, assim abrigando um lado virtuoso. Agora sim a relação está pronta.

Para evitar maiores constrangimentos, ressalto que a minha ignorância cai nessa regra e, portanto, não preciso falar ainda mais sobre a mesma, só pra continuar seguindo a ideia do "ignorância não é tema, nem assunto, nem orgulho" e fingir que neste texto a palavra ignorância e suas derivações não apareceram cerca de 15 vezes. Ah, como sou ignorante!