Dissertar a respeito do inatingível. Ultimamente venho procurando essa façanha, e acho-a estúpida, embora partindo dessa estupidez que minha confusão mental venha acontecendo e se restituindo cada vez mais complexa e inconclusiva. Mas o estopim da criação do texto do qual redijo neste momento foi muito além da objetivação de algo subjetivo. Agora quero falar do subjetivo, mas de maneira que eu não deixe de tangenciar os limites da razão e, por questão de respeito às idéias subjetivas, não deixe a razão sobrepor aquilo que almejo: o abstrato.
Por bom tempo, tudo aquilo que foi abstrato me comoveu. Parecia tão inédito e tão sem valor que eu logo deixei a abstração tomar um rumo paralelo à minha vida e, por conseguinte, deixei de crer que o abstrato é íntimo do meu pensar. Tolice! Todos os dias, a vida nos mostra que está em constante processo de reciclagem de acontecimentos e concepção dos acontecimentos. Bem por isso, menciono a abstração, não há dia que passe sem enxergar, ouvir ou sentir um complexo abstrato. Veja as formas das nuvens, veja os muros das ruas que percorre, ouça uma música dotada de muitas imperfeições, ouça o som dos pombos batendo as asas, sinta o calafrio inerente à sua vontade nos momentos mais improváveis, mas veja! Ouça! Sinta!Ouve-se dizer que o pior cego é aquele que não quer ver, mas talvez seja aquele que diz ver, ao passo que de fato vê, mas não sabe disso e ainda assim mente. Mas isso não tem prova, é transcendente, é visão que vai além de imagens, portanto não é racional, muito menos sentimental. É algo inconclusivo, e seguindo aquilo que havia dito, só vou tangenciar baseado na razão. A identificação desse fato na razão é como a sombra da Terra na Lua, num eclipse lunar, de modo que a Lua seja a razão, o Sol a transcendência e a Terra o corpo ou alma daquele que transcende, de uma maneira muito mais complexa que essa analogia.
Há uma brecha na limitação das idéias, algo que permite entender que não se entende tudo aquilo que entende. Os cientistas abusam disso com a sua tal ganância pelo conhecimento e sempre vão contradizendo gerações de pensamentos com as suas idéias mirabolantes e provando-as matematicamente, com a desculpa que a matemática não erra. Personificam a matemática como se ela fosse algo além de linguagem, quando usada no desenvolvimento de idéias. Desfiguram o conceito de ferramentas baseadas em lógica, só pra provar, tendenciosamente, que suas conclusões não partiram de um vasto nada. Como se a lógica permitisse gerar algo, e não apenas, desenvolver um ponto de partida já inventado ou deduzido por alguém...A matemática como linguagem só prova aquilo que a mente concebe. Há um estudo dessa linguagem, do qual também se chama matemática e usa de ferramentas matemáticas para provar ela mesma. Isso soa muito engraçado! Mas é claro que há uma distinção, a ciência da linguagem e a linguagem aplicada. Portanto, matemática em função de si mesma - matemática pura, matemática em função de fenômenos adversos a si mesma - matemática aplicada. Mas não se acanhe ao ler isso, definir matemática é um equívoco tão grande quanto acreditar que ela é exata até naquilo que concerne. Mas as definições servem de orientação, não fosse isso, dificilmente haveria desenvolvimento de inúmeros conceitos científicos, como o conceito de átomo, por exemplo.
Mas qual a razão de citar e desenvolver idéias aparentemente diferentes daquela que introduzi? Acho que a matemática é a melhor linguagem pra descrever o abstrato. E acho isso com tanta certeza que o aleatório que pertence ao abstrato só é aleatório por padrões de aleatoriedade e isso é tão paradoxalmente belo que seria uma falta de caráter minha não fazer uma menção por meio de figura de ao menos um sistema dinâmico, no caso uma representação do Conjunto de Mandelbrot.
Voltando ao que interessa, a matemática está cada vez mais se introduzindo na minha vida por meio da padronização de um possível aleatório. Não uma introdução formal, mas em forma de concepção. Uns dizem que é filosofia, mas prefiro não falar sobre filosofia num momento tão crucial quanto esse em minhas palavras. É hora de concluir aquilo tudo que tento explanar, e a melhor forma de fazê-la é juntar essas pequenas peças que vem desde o contato diário com a abstração, a brecha na limitação das idéias, a transcendência e a padronização do aleatório. Ou seja, a matemática é a caligrafia com que escrevo o roteiro da minha vida, de forma que o abstrato incorpora o roteiro e me leva para contato de desde aquilo que é palpável até aquilo que eu hei de alcançar de alguma forma transcendente.